Antes de continuar, ou melhor, de começar a escrever com minha panela estas palavras, gostaria de dizer que pra mim esta vivência é rica de tudo aquilo de mais bonito que a cozinha e o Amor nos proporcionam. Por este motivo, alerto a todos dos perigos de aromas que abraçam, de paladares que adoçam, da visão de um mundo melhor, do toque da vida e da sonoridade do comer. Por isso, comece apertando o PLAY!
Esta era a música favorita da minha mãe.
Minha mãe partiu há três anos e eu sinto falta dela todos os dias. E quando alguém que a gente ama parte, não sentimos saudades de momentos extraordinários, mas daqueles detalhes tão ricos e cotidianos das nossas vidas. Um dia, acordei chorando. Haviam se passado quase seis meses da partida dela e não tive um sonho ruim, mas um choque da realidade. Naquela data, me dei conta de que jamais comeria novamente seu cheesecake.
Meu luto durou aproximadamente 3 anos e meio quando, no último natal mais conhecido como aquele que aconteceu há dois dias, eu decidi que a sobremesa seria o Cheesecake dela. Mas isso também rendeu um processo grande. Uns três meses antes eu escrevia para minha tia pedindo a receita que prontamente guardei.
Se perguntar a um italiano qual a melhor comida do mundo, prontamente ele dirá que é a da mamma. Sou fruto de duas famílias de grandes cozinheiras e cozinheiros. Como diria Massimo Bottura, " Na minha veia corre vinagre balsamico e meus músculos são feitos de parmesão". No entanto, sou filha de uma péssima cozinheira.
Contrariando toda tradição familiar, minha mãe era uma péssima cozinheira. Lembro de uma vez irmos para a praia e ela ter decidido fazer compras para cozinhar para mim e meus irmãos durante nosso descanso. No primeiro feijão preparado, concordamos em congelar toda a comida e trazer de volta pra São Paulo. E esta foi ideia dela.
Maria Elisa era uma grande psicóloga, uma mãe irretocável, uma mulher super elegante e... Cozinheira de dois pratos. Seu Cheesecake e seu Feijão Tropeiro eram imbatíveis.Sobre o doce, o dela ganhava, na minha opinião, até dos nova iorquinos, principalmente porque ela deixava a massa queimadinha. Quem é italiano sabe da poesia que é o queimadinho perfeito de uma massa. Da lasanha, por exemplo, todo italiano disputa aquele cantinho magistral da assadeira. No caso de minha mãe, a parte mais crocante era fruto da sorte e não da técnica. Mero detalhe.
Antes de mais nada, gostaria de dizer que a receita é super fácil, mas que quando cozinhamos algo tão repleto de memórias e sentimentos, nosso resultado corre alguns riscos. Não foi fácil esta minha primeira fornada.Quando meu timer apitou e olhei pra minha assadeira, juro que achei que tudo estava perdido e... chorei. Queria tanto ter acertado! Mas foi quando meu irmão entrou na cozinha pra me consolar e viu o resultado que feliz me disse: "Não queimou, não! Ficou igual o dela. Sabe aquele queimadinho?".
Quis o destino que saísse até com o queimadinho. Nem se eu tivesse programado, meu forno que é tão equilibrado me daria um susto como aquele. Por fim, ficou tão gostoso que a cada garfada, eu chorava de alegria e de saudade.
Cozinhar tem disso. Proporcionar um gosto para um amor também. Receita de mãe pra filha. Sei que nunca vou sentir o real sabor, pois o ingrediente principal virou estrela, mas já consigo matar as saudades com sabor. Para Elisa, minha mãe e melhor amiga, um muito obrigada por tanto amor, por cheesecakes divinos e por estar sempre ao meu lado.
Cheesecake Elisa
Ingredientes:
1 pacote de biscoito maisena
1 lata de leite condensado
1 lata de leite comum (Usar a medida da lata do
leite condensado)
3 ovos inteiros
1 ricota de aprox. 400 a
500g
Geléia de goiaba
3 colheres de sopa de
margarina
1 colher de chá de essência
de baunilha.
Modo de fazer:
Preparo da Massa:
Triturar
o biscoito no liquidificador até virar farofa. Misturar na farofa a margarina,
até fazer liga. Forrar o fundo do pirex refratário ou forma de fundo removível .
Recheio:
Bater no liquidificador a
ricota, os leites, os ovos e a essência de baunilha.
Colocar a mistura sobre a massa e leevar ao forno médio (180 a 200º) por 30 a 40 min. Importante adaptar ao ritmo do seu forno. No meu, por exemplo, 25 minutos foram suficientes. Quando estiver fria, aplicar a
geléia e servir gelada.
Dica: No lugar da Geléia, compre goiabada cremosa. E derreta em fogo médio acrescendo água aos poucos. O importante é não deixá-la líquida.
E se você resolver se aventurar na receita, manda a fotinho pra gente. =)