Filmes de suspense e terror tornaram-se uma espécie de “comédia romântica às avessas”, com fórmulas fáceis e previsíveis. Há ainda alguns que beiram respeito à inteligência do público, mas pecam em alguns furos de roteiro (como “Hereditário”), mas “O Ninho”, escrito e dirigido por Roberto De Feo, consegue se destacar ao entregar mistério e atmosfera densa com alguma profundidade.
No filme, tudo é esquisito de alguma forma: a tirania da mãe, que parece desempenhar este papel à contragosto; a subserviência dos empregados que compactuam com tudo mesmo sem concordar; o comportamento submisso dos membros da família; elementos cotidianos que remetem a diversas épocas, tornando impossível determinar em que período da história este filme se passa.
Durante todo o filme nos questionamos: “que raios de sociedade alternativa é esta” e também “mas por que as pessoas sujeitam-se a isto”. Mas, se deixarmos isso tudo de lado, também podemos analisar uma camada mais profunda do filme que diz respeito ao comportamento superprotetor da mãe. Sob este ponto de vida, “O Ninho” assemelha-se mais a um drama do que propriamente a um terror.
A ruptura na rotina da família acontece com a chegada de um novo elemento: Denise (Ginevra Francesconi ). Também não fica muito claro o porquê da sua estadia no “ninho” ser aceita (também a contragosto), mas vemos que sua chegada acaba por ser um elemento importante para desestabilizar a frágil relação entre o menino paraplégico, Samuel (Justin Alexander Korovkin) e sua mãe, Elena (Francesca Cavallin).
Apesar de ser um filme focado mais no aspecto do terror psicológico, é bom ressaltar que em “O Ninho” há alguma violência em algumas cenas de morte e tortura, retratada em alguns momentos de forma mais artística e subjetiva e, em outras, de maneira mais crua.
Certamente foi um filme que me surpreendeu positivamente, mas vale o aviso de que o trailer dá a entender que o filme é muito mais dinâmico e cheio de sustos. É apenas uma questão de gerir as expectativas: na minha opinião, não é uma história que vai dar sustos de pular a cadeira, mas “O Ninho” consegue trazer na sua história surpresas que valem muito mais do que os truques baratos do gênero.