16 de jan. de 2013

La Boulangerie

Uma das melhores coisas na França é a culinária. A cozinha é realmente maravilhosa, mas eles são bons mesmo no que eu chamo dos pilares franceses: vinho, queijo e pão.

É possível passar um ano comendo só isso e sentir vários sabores diferentes, pois a quantidade de vinhos, pães e queijos que esse país faz é absurda!


O mais legal é que podemos comprar cada uma dessas coisas numa loja especializada. O que acaba acontecendo é que você vai sempre na mesma loja, fica amigo do vendedor e cria um verdadeiro laço com ele. Ele sabe o que você gosta, te dá dicas, guarda as novidades para você provar. É verdade que, com a vida moderna e corrida, é mais difícil ter esse tipo de relação, mas ela ainda existe aqui na França.

Aqui, podemos encontrar redes de padarias  em que os pães são feitos em série e sem magia nenhuma, mas ainda encontramos algumas típicas, em que sentimos o amor e o respeito do padeiro em cada migalha.

Desde do meu primeiro dia em Nantes, comecei a procurar a minha padaria. Acabei escolhendo três: uma que é realmente minha preferida para pães, uma para doces e uma para ir aos domingos (dias que as outras estão fechadas).

Como tenho muito respeito pelo trabalho desses artesãos, que trabalham duro para manter uma tradição francesa tão bonita, pedi para o meu padeiro se eu poderia ver os bastidores da padaria dele, assim  escreveria tudo aqui no blog.

Ele não só topou como foi de uma generosidade enorme todo o tempo que passei do outro lado do balcão. O dia começa muito cedo para um padeiro, mas como não sou uma profissional, fui poupada e pude chegar na padaria às 7 da matina (eles já trabalhavam desde às 4h).


Antes mesmo de entrar, o cheiro de pão quentinho já invadia a rua escura e vazia. Fui recebida com um grande sorriso pela dona. A padaria se chama Pains, beurre et chocolat (Pães, manteiga e chocolate) e é dirigida por um casal de padeiros que contam com alguns ajudantes.

Descobri que, na verdade, eles só viraram padeiros em 2004. Eles tinham outros empregos, eram jornalistas e nem viviam em Nantes. Madame quis seguir um sonho antigo, largou tudo, fez os devidos cursos e começou a trabalhar com pâtisserie. A vida começou a ficar complicada com horários tão diferentes entre dois e monsieur resolveu seguir a esposa e também mudar de profissão. Hoje, os dois tocam a padaria com muito amor e dedicação.

Quando eu cheguei na padaria, eles já estavam trabalhando há horas e o forno estava a todo vapor. Enquanto M. Marché estava, literalmente,com a mão na massa, além de me explicar cada passo do que ele estava fazendo, ele me contou da sua mudança de profissão e das características necessárias para ser um padeiro.


Nessa padaria tudo é feito da maneira mais natural possível. A farinha vem de um lugar que tritura o trigo entre pedras e não em máquinas, o croissant é feito com uma manteiga especial...
Se contarmos do princípio ao fim, eles levam 7 meses para fabricar uma baguete, já que fazem o próprio fermento natural (mistura de farinha e água que produz bactérias).

Esqueça o nosso pãozinho de todo dia. Aqui, encontramos milhares de tipos de pães, menos o nosso brasileiríssimo pão francês. O pão mais tradicional é a baguete, e ainda sim existem vários tipos dela, mas a padaria é recheada de delícias: pains de campagne, ficelles, epeautre, siegle, bretzels, pain nordique...a lista é imensa! Fora os croissants, pains au chocolats, os doces....ai ai.

O que mais me impressionou foi a quantidade de trabalho. Durantes horas eles não pararam nenhum minuto! Mexe na massa de baguete tradicional, coloca a massa do pão de azeitona no misturador, coloca mais água no fermento, coloca o croissant no forno...


No meio disse tudo, M. Marché me disse que o que ele gosta nessa profissão é a partilha, o fato dele poder passar tantos sentimentos por meio de um alimento. Ele me contou que a época de Natal é muito rica para um padeiro, é quando ele faz muitos pães específicos para a temporada, quando as pessoas fazem grandes refeições em família.

Ele me disse também que, entre a fabricação de 600 baguetes e 100 croissants diariamente, é preciso sempre se perguntar se o caminho que foi escolhido foi o certo, tanto pelo fato de trabalhar com algo que nunca sai da mesma maneria, mas também pelo fato de que ele nunca sabe a reação dos clientes.

Foram 2 dias de muitas cores, cheiros e sabores! Aprendi que um alimento tão básico e tão antigo é muito complexo, por mais que a receita seja simples. Esse encontro mudou minha maneira de olhar o pão, e mudou mais ainda minha maneira de olhar para o meu padeiro, que consegue proporcionar uma felicidade enorme apenas com farinha, água e fermento!



4 comentários:

  1. Uma relação bacana com o vendedor é um tremendo adianto. Aqui em SP, em alguns bairros, isso ainda é possível. Adorei o tour, deve ser difícil resistir a tantas tentações... Beijo!

    ResponderExcluir
  2. Que experiência maravilhosa Priscila! Acho que eu poderia morar dentro de uma dessas boulangeries francesas!

    ResponderExcluir
  3. Que legal, difícil sobreviver a tantas tentações.Achei POP

    ResponderExcluir