Dez minutos antes de entrar na cabine de imprensa do filme Luta por Justiça, a convite da Warner Bros., eu lia a matéria do El Pais sobre o caso de racismo que o jogador Marega sofrera na Europa. E “Luta por Justiça” tem tudo a ver.
Nos Estados Unidos do final dos anos 80, o advogado negro recém-formado Bryan Stevenson – interpretado brilhantemente por Michael B. Jordan – troca o conforto das promessas da Faculdade de Direito de Harvard pelos casos esquecidos e injustiçados do Alabama. E é lá que ele conhece a história de Walter McMillian – incorporado pelo majestoso Jamie Foxx- preso injustamente e acusado por um assassinato que não cometeu.
A história do filme é real e baseada no livro escrito por Stevenson que também assina a produção executiva do longa. Com diálogos certeiros e carregados pelas dores e injustiças que o racismo estrutural causa, “Luta por Justiça” desnuda uma sociedade ainda atual pautada na voz e na legitimidade branca que se cala e se deleita em privilégios lutando para não serem perdidos. Batalha esta que custa a vida e a dignidade de milhares de pessoas negras pelo mundo todo.
Stevenson, ainda atuante em sua causa, só foi capaz de seguir adiante com seu propósito porque sabia exatamente o que é ser julgado por sua cor antes mesmo da decisão de um tribunal. Fato este que eu, como branca, jamais serei atravessada. Saí do cinema munida de esperança e de reflexões. Voltei ao campo de futebol em que Marega jogava, brilhava e era perseguido, xingado e humilhado. Naquele estádio e na vida, eu jogava ao lado dele. Mas isto não foi suficiente porque nunca o é.
Angela Davis que sentiu na pele o preconceito estadunidense, nos alertou que só não ser racista não seria suficiente. Deveríamos ser antirracistas. E para isso, se a torcida não é punida pelos seus preconceitos, chamamos a responsabilidade a campo. Se o juiz pune a vítima, questionamos as estruturas sociais e do futebol, e nos colocamos contra isso não aceitando. Se a saída mais certeira do momento for a escolha do seu parceiro negro em abandonar o campo, cabe respeitá-lo e dar as costas para uma partida carregada de injustiças. Nunca, nunca fazê-lo pensar que o que ele sente é errado. Até mesmo porque podemos opinar sobre, mas este não é e nunca será o lugar de fala de um branco. Se insistirmos na ideia, reproduziremos a lógica que nos ensinaram.
Filmes como este nos trazem à reflexão e ao questionamento sobre a reprodução de uma ordem estabelecida que privilegia brancos. Que bom que saímos dele pesarosos e desconfortáveis. Mas o quê fazer agora? Interromper estas práticas pessoais e nas suas relações sociais já é um começo. Ouvir e respeitar a história do outro também. Ler autores e autoras negras, conhecer histórias de resistências como estas e tantas outras que, por gerações, travam uma batalha para que pessoas continuem existindo.
Luta por Justiça entra no circuito nacional dia 20/02.
Oi Nathalia, quero muito assistir o filme. Parece ser incrível, um desses filmes com tema pesado mas extremamente necessário. E que atuações!
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